Escrever com os pardais: notas para uma zoopoética
Sinopse
O termo “zoopoétique”, proposto por Jacques Derrida em L’Animal que donc je suis (2002), pressupõe um contrato de contemplação entre os animais humano e não-humano, percecionando o outro como um sujeito aberto. Dito isto, a zoopoética investiga a representação do animal no fenómeno literário, reconhecendo-o como um sujeito sensível, capaz de produzir linguagem e pensamento. Contrariando a teoria de Martin Heidegger (segundo a qual o animal é pobre em mundo pela sua ausência de linguagem), Derrida afirma que apenas a poesia pode compreender o pensamento animal, ultrapassando os moldes convencionais do pensamento: “o pensamento do animal, se ele existir, cabe à poesia”. Ou, nas palavras de Aaron M. Moe, em Zoopoetics Animals and the Making of Poetry: “quando [...] o poeta descobre novos gestos através do seu envolvimento com os animais, o processo de poiesis torna-se um evento multiespécies” (2014: 24). Aliás, quando Donna Haraway escreve “To be one is always to become with many” (2008: 32), sublinhando o vínculo entre todos os seres vivos, humanos e não-humanos, ou seja, o facto de nenhuma espécie existir isoladamente, salienta mais uma vez a relação multiespécie que se faz querer agora, de forma justa e a um nível mundial.